quarta-feira, 6 de março de 2013

Amor - Oscar 2013

★★★★☆
Ótimo

Michael Haneke sabe como poucos fazer filmes que mexem com o psicológico das pessoas. Em "Violência Gratuita", sem mostrar muito, ele consegue deixar o espectador em constante angústia ao narrar a história de uma família que sofre nas mãos de dois jovens sádicos. Em "Caché", um casal que começa a receber fitas gravadas secretamente mostrando a casa deles, e desenhos com significados, inicialmente, desconhecidos. Isso só para citar os seus dois filmes mais conhecidos.

Em "Amor", mais uma vez o diretor foca em um casal, agora de idosos, que tem como inimigo não a maldade ou desejo de vingança de pessoas, e sim o temido e inevitável final da vida, e tudo que ele traz.
Geoges e Anne são um casal de músicos aposentados que vivem uma vida simples, porém alegre... Até que Anne tem um derrame que vai mudar completamente o modo que eles vivem.

Haneke mais uma vez mostra que é mestre em criar cenas interessantes. Já começando com uma ironia mórbida colocando o título "Amor" pra aparecer logo depois do cadáver no início. E a ideia do amor virar, aos poucos, uma prisão é no mínimo corajosa — assim como toda a filmografia do diretor. Na minha visão, o marido não fez o que fez no final pela mulher e sim por ele. Todo mundo tem um "breaking point", aquele momento em que não aguenta mais. Há cenas poéticas também, como nas vezes que Georges ajuda Anne a se levantar da cadeira de rodas, o casal parece estar "dançando", e eles deixando a casa, no final.

Assim como em seus outros filmes, Haneke utiliza planos longos e diálogos comuns, ainda mais para retratar o dia a dia simples de um casal idoso. Porém, uma vez que a doença de Anne se manifesta, as coisas ficam complicadas. Os planos não são mais dominados por conversas corriqueiras de um casal, e sim pelas dificuldades trazidas pela doença — como Georges ter que ajudar Eva a ir no banheiro. Por um momento pensamos que a situação não poderia ficar mais difícil, porém, num corte bruto, Haneke surpreende o espectador mostrando como a doença de Anne deteriorou-se. Agora ela deitada, com soro na veia e mal conseguindo falar e organizar seus pensamentos. O amor do casal será testado como nunca antes.

A fotografia do filme é simples, mas muito eficaz. Todo o filme se passa na casa do casal, porém não fica uma impressão de claustrofobia e sim de... aconchego. A direção de arte aposta em tons alaranjados e azuis para compor o ambiente do filme. Desde as roupas dos personagens (na maioria das vezes azuis), até detalhes nos móveis e objetos na casa.

Emmanuelle Riva não ganhou o Oscar, mas merecia. Que atuação espetacular. Ela interpreta com perfeição cada momento de Anne, não só os difíceis e tristes, mas também um dos únicos momentos leves do filme, quando ela testa uma cadeira de rodas elétrica — parece uma criança com seu novo brinquedo. Sem querer desmerecer o ótimo trabalho de Jennifer Lawrence, a derrota de Emmanuelle Riva será uma daquelas injustiças que será sempre lembrada por muitos anos. E Jean-Louis Trintignant não ter sido indicado a melhor ator é um mistério para muito gente. Ele era tão merecedor quanto Riva.

Ainda que "Amor" não tenha causado em mim o efeito assolador que tem causado na maioria dos seus espectadores, não dá para negar que é um ótimo filme, com cenas belíssimas, discussões interessantes e que desperta sensações incômodas em vários momentos. Se "O Lado Bom da Vida" foi o filme mais fell good que concorreu ao Oscar 2013, "Amor" pode ser considerado como o mais devastador. Michael Haneke nos apresenta uma imagem muitas vezes poética, mas não muito feliz sobre o fim da vida. É um filme sobre não só o amor, a face mais bela da vida, mas também sobre a mais temível e triste — a morte.

Amour
França/Alemanha/Austria, 2012 - 127 min.
Drama
Direção: Michael Haneke
Roteiro: Michael Haneke 

Elenco: Emmanuelle Riva, Jean-Louis Trintignant, Isabelle Huppert, Alexandre Tharaud, William Shimell
Indicações ao Oscar: Melhor filme, Melhor atriz, Melhor diretor, Melhor roteiro original, Melhor filme em língua estrangeira

*Em negrito os prêmios ganhos

Um comentário:

  1. Israel, excelente crítica. Eu não acho que ele tenha feito o que fez somente por ele, ou por ela, eu acho que ele fez por eles. Ambos estavam sofrendo em uma situação que estava fadada ao fracasso, talvez eles tenham sofrido menos dessa forma.

    E realmente, foi uma injustiça ela não ter ganho o Oscar. :)

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