segunda-feira, 15 de abril de 2013

A Caça

★★★★☆
Ótimo


"A Caça", novo trabalho do diretor dinamarquês Thomas Vinterberg, é um belo e forte filme dinamarquês sobre como uma mentira pode destruir a vida de um homem.

Lucas (Mads Mikkelsen, de "Casino Royale" e da série recém estreada "Hannibal") trabalha num jardim de infância e é adorado pelas crianças. Apesar de estar se divorciando, recebe a boa notícia que seu filho quer morar com ele. Além disso, começa a namorar a bela Nadja. Sua vida parece estar melhorando consideralvemente, mas uma acusação de pedofilia vai fazer tudo virar de cabeça para baixo.
A pequena Klara, filha do melhor amigo de Lucas, não recebe muita atenção em sua casa (até a acusação ser feita, a menina nunca é vista recebendo demonstração de afeto de seus pais, que constantemente a perdem) e costuma ir e voltar da escola acompanhada por Lucas. Ela acaba encontrando nele uma figura protetora que não vê em seus pais. Numa brincadeira na escola, ela dá um beijinho na boca de Lucas, que sem saber o que fazer, a repreende gentilmente. Se sentindo rejeitada, ela inventa uma mentira sobre ele para a diretora, Grethe que, a príncipio, acha difícil acreditar, mas acaba aceitando a palavra de Klara, por não ver razão nela estar mentindo. A partir daí as suspeitas em torno de Lucas aumentam e sua vida vira um inferno.

O diretor e co-roteirista Thomas Vinterberg (Tobias Lindholm também assina o roteiro) consegue fazer com que um elo muito forte se crie entre nós, espectadores, e o personagem principal já que, além de nós, só o próprio protagonista e seu filho acreditam em sua inocência. Nos sentimos testemunhas de seu sofrimento, e vítimas da inocência de uma criança.


O pior é que não dá para culpar o agente principal da confusão, pois ele é uma criança que não tem consciência da consequência de seus atos. Nem os pais. Acho que qualquer um de nós ouvindo tal denúncia de um filho, se sentiria inclinado a acreditar nele. O que muda seria a forma como trataria o suposto criminoso — se não o agredissem pelo menos o olhariam "torto". Se fosse para apontar um culpado, talvez seria o irmão mais velho de Klara, que ao mostrar para ela (mesmo por alguns poucos segundos) uma imagem pornográfica, tirou sua inocência (ela ficou com a imagem na cabeça), e indiretamente apertou o gatilho que causou tudo isso.

Discutindo um assunto difícil que sempre causa revolta e comoção, "A Caça" nos permite desde o início enxergar o "quadro completo", como se estivéssemos vendo o filme do alto, cientes da inocência de Lucas. Mas cabe a pergunta: como reagiríamos diante de um caso parecido em que não tivéssemos total consciência dos fatos?
Falar em pré-julgamento quando não é a segurança do seu filho que está em jogo é fácil.
Como muitos, eu tento sempre me manter cauteloso com acusações sem provas (ainda mais em tempos de guerra de palavras na internet), mas em situações "extremas" não posso dizer com certeza qual seria a minha reação. É como reagir a um assalto sabendo que não se deve fazê-lo. Quando algumas situações se tornam pessoais, nem sempre seguimos o que temos como o certo.


Vale destacar as atuações impecáveis do elenco do filme, principalmente de Mads Mikkelsen e da garotinha Annika Wedderkopp. Ela me convenceu em cada momento. O elenco de apoio faz um bom trabalho, especialmente Thomas Bo Larsen (que tem uma curiosa semelhança com John Hurt) e Susse Wold.

"Jagten", no original, já desponta como um dos melhores dramas de 2013. Thomas Vinterberg faz um filme difícil que consegue tocar o espectador e ainda o fazer refletir sobre o que foi visto na tela, até porque, no final, a história de Lucas não é apenas sobre tragédia, mas também sobre perdão.

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