segunda-feira, 6 de maio de 2013

A Morte do Demônio

★★★☆☆
Bom

Texto com pequenos spoilers.

Remake de um dos filmes de terror mais celebrados do cinema, "Evil Dead" (no original) estreou sobre forte alarde, com uma pré-estreia que causou muitos comentários nas redes sociais, inclusive de pessoas que não aguentaram ver o filme até o final — aquele blá blá blá de sempre, quando o assunto é filmes de terror atuais.

Mas essa nova versão nem de longe tem o mesmo "charme" do original. Por charme eu quero dizer o fator trash, meio amador, que um orçamento de apenas $350.000 proporciona a um filme com muitos efeitos especiais. O novo "A Morte do Demônio" saiu do papel já com status de grande lançamento, e foi distribuído por um grande estúdio (Sony), algo que Sam Raimi sequer poderia sonhar quando fez o original. Para se ter uma ideia, o orçamento de "A Morte do Demônio" ($17.000.000) foi maior que outros filmes recentes do gênero como Mama, que usa muitos efeitos digitais e tem nomes mais chamativos no elenco, como Jessica Chastain.

Com a responsabilidade de ser um grande lançamento, vem a pretensão de ser um grande filme. E essa pretensão, que pode ser vista logo na frase que estampa o cartaz do filme, que atrapalha o resultado final. Sam Raimi, que agora aparece como produtor (assim como Bruce Campbell, o eterno Ash, que faz uma participação minúscula depois dos créditos), passou a responsabilidade de "reciclar" seu filme ao novato Fede Alvarez, um diretor uruguaio que até então só tinha feito curtas — o mais conhecido, "Ataque de Pânico" pode ser visto aqui. Ele não é só responsável pela direção, mas também pelo roteiro, que é também escrito pelas mãos de Rodo Sayagues e revisado por Diablo Cody.
Na nova trama, Mia está se recuperando de uma overdose de drogas e vai com seu irmão e seus amigos passar uns dias na cabana da família. No porão do lugar eles encontram o livro dos mortos, que desperta forças demoníacas que possuem os vivos.


Logo no início do longa já percebemos que será uma produção mais séria que o esperado. A trama carregada por problemas familiares e com drogas, nada lembra o tom escrachado e despretensioso do original, e de filmes mais recentes como "Arreste-me Para O Inferno" (do próprio Raimi) e "O Segredo da Cabana". Além disso, nota-se uma mudança de objetivo. Enquanto a trilogia de Raimi tinha como objetivo divertir os espectadores, o novo filme de Alvarez quer chocá-los. A violência/gore que antes fazia parte da experiência do filme, agora É a experiência. Talvez esse seja o principal pecado de "A Morte do Demônio". Há ainda as soluções fáceis de roteiro, como a ação que dá o ponta pé inicial na trama principal — uma pessoa supostamente inteligente que resolve ler em voz alta trechos de um livro feito com carne humana e escrito com sangue —, mas os fãs de filmes de terror (e eu sou um deles), que já estão acostumados com tamanhas asneiras, provavelmente não vão ligar muito para isso.

O lado técnico do filme chama a atenção com cenas interessante e sangrentas que são muito bem executadas. E o CGI, tão corriqueiro nos filmes atuais, só é usado quando realmente preciso. Fede Alvarez quis manter as raízes de Raimi e, com sua equipe, faz um bom trabalho com maquiagem e efeitos práticos — inclusive na cena em que Mia corta sua língua, diziam para Alvarez que seria melhor o uso de efeito digital, mas ele insistiu em fazer do jeito "mais difícil". E o resultado é bem convincente.
Mas não só a equipe de efeitos especiais merece menção. A trilha sonora de Roque Baños é excelente e prepara uma atmosfera tensa, já não bastasse o que acontece na tela.

O elenco jovem é na sua maioria fraco e decepciona. Só se salvam a bela Jane Levy (que começou a aparecer meio como uma Emma Stone genérica, na série Suburgatory), e Jessica Lucas (Cloverfield). Shiloh Fernandez, que faz no filme mais ou menos o papel que seria de Ash, só não é mais inexpressivo e sem carisma que Elizabeth Blackmore, sua namorada no filme. Lou Taylor Pucci fica no meio do caminho. Não tem grande atuação, mas também não compromete.


Apesar de ter um clima totalmente diferente, "A Morte do Demônio" também usa de referências ao original para se conectar com os fãs do clássico. O Necronomicon Ex Mortis foi atualizado para uma versão bem mais chamativa visualmente. Aliás, a fim narrativos, a semelhança entre os dois filmes termina aí. São filmes completamente diferentes. E não há só referências ao primeiro Evil Dead, mas também ao segundo, que recebeu o nome "Uma Noite Alucinante" aqui. Uma delas é uma cena durante o eletrizante clímax, que acontece sob uma chuva de sangue — se o filme já é uma, nesse momento ela se torna literal. Na batalha entre o último sobrevivente e o Demônio, ele fala "I'll feast on your soul!" e recebe a resposta "Feast On This, Motherfucker". Essa cena claramente lembra esse momento do segundo filme.

E construindo uma nova mitologia enquanto faz referências ao original, o "A Morte do Demônio" de Fede Alvarez, mesmo com seus defeitos, se faz notável dentre um gênero que carece de filmes relevantes. Não, não é "O filme mais apavorante que você verá", como é prometido, mas é um bom filme que vai agradar quem aprecia o gênero.

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