segunda-feira, 20 de maio de 2013

Terapia de Risco


★★★★☆
Ótimo

Se há um adjetivo que poderia descrever Steven Soderbergh como diretor, definitivamente seria: versátil. Sua filmografia variada vai desde filmes extremamentes pipocas, como "Onze Homens e Um Segredo", a cults como "Che", passando por longas de ficção científica ("Solaris") e ação ("À Toda Prova").
Em seu novo e provavelmente último filme, "Side Effects" (no original), ele faz um suspense que mistura o universo da indústria farmacêutica — já abordado, dentre outros temas, dois anos atrás, em "Contágio" — com elementos que remetem até a obras de Hitchcock e seus jogos mentais.

A trama do filme conta a história de Emily Taylor (Rooney Mara, da versão americana de "Os Homens Que Não Amavam as Mulheres"), uma mulher que sofre com ataques de ansiedade e depressão. Mesmo com a volta do seu marido (Channing Tatum) para casa, depois de passar 4 anos preso por um negócio ilícito na Bolsa de Valores, as crises não melhoram e a levam a uma tentativa de suicídio. No hospital, ela conhece o psiquiatra Jonathan Barks (Jude Law), com quem começa a se tratar. Ele prescreve um novo remédio experimental que a faz melhorar, porém, causa alguns efeitos colaterais inesperados que mudarão a vida de todos.

O roteiro de Scott Z. Burns faz "Terapia de Risco" parecer dois filmes em um. A princípio um filme de investigação que trata de temas sérios como depressão e a responsabilidade de médicos que são pagos por laboratórios para testar novos medicamentos em seus pacientes (com a permissão deles, é claro), o filme toma uma guinada inesperada que o transforma num grande suspense psicológico.
Dentro do que foi pretendido o filme funciona muito bem (apesar de forçar a barra em alguns momentos), pois consegue pegar o espectador de surpresa. Mas talvez poderia ser um filme ainda mais interessante se Soderbergh fosse mais a fundo nas questões mais sérias que começou a abordar, pois elas só funcionam como uma escada para a verdadeira trama. Além da depressão, como ele tinha começado a tratar do tema da indústria farmacêutica há dois anos, eu esperava que em "Terapia de Risco" ele fosse mais a fundo, "investigando" esse universo pouco conhecido do público, como o filme dá a entender. Mas ele pretere esses dois temas para puxar o tapete do espectador em nome de um thriller que, dependendo do ponto de vista, pode ser considerado inteligente e intrigante, ou bobo e ilusório.


Porém, mesmo com minhas ressalvas, admito que gostei do filme. Dentre esses bons e maus adjetivos que citei, eu usaria intrigante e ilusório como a minha definição do longa. Minhas reservas quanto à obra são mais por gosto pessoal — e até expectativa — do que por questões narrativas ou técnicas. A fotografia, assumida mais uma vez pelo próprio Soderbergh (sob o pseudônimo de Peter Andrews), é excelente e trás detalhes muitos interessantes. Um deles é na primeira consulta de Emily com Jonathan. No início da sequência a câmera enquadra Emily de cima para baixo (posição em que o personagem/objeto filmado diminui), mas à medida que ela vai falando sobre como conheceu Martin, a câmera vai abaixando até enquadrá-la de baixo para cima (fazendo-a crescer), sinalizando como ele a fazia bem, inclusive para sua auto-estima.
Seja por meio da iluminação ou da direção de arte, a paleta de cores frias e foscas, como um amarelo-pastel muito utilizado nos vários ambientes escuros, dominam o filme em sua maioria, enfatizando ainda mais o universo sem cores e o clima depressivo do filme.

"Terapia de Risco" é muito bem dirigido e tem ótimas atuações. A dupla de protagonistas — Jude Law e Rooney Mara — levam muito o filme. Law está muito bem como o psiquiatra numa posição difícil que precisa provar sua inocência. E Mara é perfeita em todas as nuances que seu personagem pede. Já Catherine Zeta-Jones, que interpreta a antiga psiquiatra de Emily, fica abaixo do resto do elenco, não fugindo da caricatura de uma psiquiatra.

Steven Soderbergh vem prometendo se aposentar como diretor desde 2011, mas esse é o seu segundo filme de lá para cá. Se "Terapia de Risco" realmente for o seu adeus ao Cinema, ele o faz com um filme se não perfeito, com qualidade inquestionável. O longa tem seus defeitos, não é a sua melhor obra, mas gostando ou não do rumo tomado, funciona muito bem como suspense, e consegue surpreender.

4 comentários:

  1. Muito bom! Levando em conta nossa conversa anterior sobre o filme (achava que ia discordar de você), concordo com tudo que disse. Um detalhe que me incomodou bastante foi a criação da personagem de Catherine Zeta-Jones, ela parecia um robô! E realmente, coloquei muita expectativa neste longa, achando que Soderbergh ia a fundo no tema ansiedade/depressão. Fiquei um pouco frustrada com a reviravolta, também achei muita coisa forçada. Agora, sobre a fotografia, ele usou bastante um recurso que se chama tilt-shift (não sei se no cinema o nome se aplica da mesma forma), mas é ótimo para destacar detalhes e dar um certo ar de miniatura ao objeto em foco.

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    1. Pois é. Também não gostei do personagem da Catherine Zeta-Jones. Você até definiu melhor que eu. Parecia um robô, mesmo.
      Interessante esse lance do tilt-shift. Por isso que é bom ter o olhar de uma fotógrafa! Hehe

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  2. Gostei muito do filme( acabei de ver agora depois de ter visto seu comentário a 2h atrás sobre ele no facebook...rsrsrs). Estou um pouco com medo de psiquiatras, como sempre fico ao ver um filme desse tipo, mas tirando isso gostei bastante . rsrs

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