segunda-feira, 22 de abril de 2013

Mama

★★★☆☆
Bom

Talvez uma das produções de terror mais esperadas do ano, "Mama" provém de um curta feito por Andrés Muschietti em 2008 chamado "Mamá". O assustador vídeo de 3 minutos (pode ser visto aqui), que é basicamente duas irmãs fugindo de um ser amedrontador, chamou a atenção de um dos maiores nomes do gênero de terror dos dias atuais. O roteirista, diretor e produtor Guillermo del Toro resolveu bancar a versão completa da história imaginada por Muschietti, que seria responsável pelo roteiro (junto com sua irmã, Barbara, e Neil Cross) e pela direção.

Mas em vários momentos do filme vemos a mão de Del Toro, inclusive nos créditos iniciais, onde há uma arte que já virou uma marca sua, ou o próprio desdobramento da trama, em que as possibilidades de um final feliz vão diminuindo.

Na trama, depois de matar seus dois sócios e sua ex-mulher num ato de desespero, Jeffrey (Nikolaj Coster-Waldau, o Jaime Lannister de Game Of Thrones) foge sem destino com suas duas filhas, Victoria e Lily, até que eles sofrem um acidente na estrada e vão parar numa cabana abandonada. Cinco anos mais tarde, os detetives contratados por Lucas, irmão gêmeo de Jeffrey, finalmente conseguem encontrar as meninas, que dizem ter sobrevivido com a ajuda de Mama. Elas vão morar com Lucas e sua namorada, Annabel (Jessica Chastain, "A Hora Mais Escura"), mas algo a mais acompanha as meninas ao novo lar.

Foi importante o mesmo roteirista e diretor do curta ser o responsável também pelo longa, mas nota-se a sua falta de experiência — antes de Mama, ele só tinha feito dois curtas. Criar uma história e todo um universo em torno de um curta de 3 minutos, é muito mais complicado. Como exemplo posso citar a super exposição da Mama na 2ª metade do filme, pessoalmente (tentam humanizá-la, ou pelo menos sua figura humana) e visualmente — sim, todos queremos ver a cara de um monstro/espírito, mas se isso é exposto demais, perde o efeito amedrontador, e é o que acontece no filme. Outro exemplo é o personagem Lucas, que parece perdido no filme. Depois que ele vai pro hospital, perde sua relevância na trama. O sonho em que o irmão o manda ir ao lugar onde tudo aconteceu, não tem valor narrativo algum, mesmo que seja uma sequência esteticamente interessante — o sonho de Annabel, sim, serve tanto para fins narrativos quando para estéticos pois, visualmente ainda mais poderoso, vemos por uma câmera subjetiva a história de Mama. Se Lucas não tivesse ido onde a ação se desenrola no terceiro ato do filme, não mudaria nada na história. Só serviu para ele se reunir com a Annabel que iria para lá de qualquer jeito. Se o personagem dele morresse, não faria a mínima diferença.


Mas há muitos prós no filme. A sacada dos óculos de Victoria foi excelente. Eles representam a ligação dela com o universo "material". A primeira vez que ela vê Mama está sem eles (talvez até por isso não tenha ficado assustada). E durante o decorrer do filme, quando ela já mora com Lucas e Annabel e, o mais importante, os aceita, está sempre com eles. Mas quando Mama aparece ela os tira, pois não quer vê-la como realmente é. Lily, que era muito pequena quando conheceu Mama (e mesmo 5 anos depois não entende o perigo), não tem mais essa ligação com o nosso mundo. Quando conhece Mama, a aceita como protetora e a partir daí, não volta atrás.

O filme também tem suas cenas engraçadas, inclusive apostando no elemento sobrenatural. Numa delas, bem inteligente visualmente, o diretor faz quase um Split screen mostrando na mesma tela duas ações diferentes. À esquerda vemos Annabel fazendo seus serviços de casa, enquanto à direita vemos um a parte do quarto das meninas, onde Lily brinca com Mama (que não é vista), que a faz flutuar.

Andrés Muschietti mostra que tem um bom conhecimento em linguagem visual, fazendo um filme com cenas belas e assustadoras onde a atmosfera de suspense (que vem do curta) permanece na maioria do longa, mas que precisa de mais experiência como roteirista, se ele quer seguir na atividade.


No geral, eu confesso que esperava mais de "Mama". O filme se sustenta bem como uma produção de Terror, mas no momento em que tenta levar pro Drama e ser original, falha. O final não irá agradar a todos, mas a verdade é que os problemas começam já na segunda metade do filme, que é onde os problemas no roteiro começam a ficar mais visíveis.
Porém, mesmo com suas falhas, o filme está longe de ser ruim. É muito bem produzido, tem uma boa fotografia e trilha sonora, e dá bons sustos.
Eu recomendo um outro filme que o Guillermo del Toro produziu: O Orfanato (2007). Acho o melhor (ou pelo menos um dos melhores) filme de terror latino dos últimos anos.

3 comentários:

  1. Concordo que o diretor é bom, mas precisa se aprimorar, entretanto acho que o problema do filme fica mais por conta do roteiro. São muitas as cenas que, apesar de interessantes, não acrescentam em nada à história. Pra mim todas as cenas de Lucas no hospital são inúteis. Aliás esse personagem é completamente descartável ao meu ver.

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  2. O problema foi o final, foi igual a Ilha do Medo, um final sem pé, nem cabeça...

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